domingo, 3 de outubro de 2010

- Eu vou embora.
Disse ela, como quem dizia um bom dia ou pode me passar o azeite?,
- O quê?
eu disse, e logo me arrependí, tive vergonha da minha hipocrísia. Eu sabia exatamente do que se tratava.
- Eu não sou mais feliz aqui.
E destilou aquela sua irritante liberdade, aquela falta de apego sobre qualquer coisa, essa facilidade que tinha em abandonar, abandonar-me. Não disse nada, eu era, naquele momento, fraco demais para dizer qualquer coisa e, no fundo, eu sabia que nenhuma palavra adiantaria.
- Nós dois sabemos que isso não está mais dando certo, não é nem próximo do que era antes.
Eu sabia. Dói quando se ouve uma verdade em que nunca se quís acreditar. Arranjei forças, não se sabe onde, pra mover o braço até a mesinha de centro. Acendí um cigarro, talvez pra mostrar-me um pouco menos destruído do que estava, de fato.
- Você não vai dizer nada?
Fiquei inerte por uns 40 segundos, quase tentando não estar alí. Até que eu pude articular algumas palavras que eu não sabia bem quais eram, mas disse.
- Você não passa de uma vadia, eu quero muito que você morra.
- Eu quero muito que você seja feliz.
Ela disse com um ar de quem diz "Olha como eu sou superior a você, idiota"
- Foda-se, eu nunca vou ser feliz sem você, você sabe, pega essa tua hipocrisia enfia no cu e some daqui.
Chorei, talvez como nunca havia feito antes.
- Não me deixa, por favor, eu preciso muito de você, me perdoa, prometo que vai ficar tudo bem. Eu prometo, por favor, eu imploro.
Ela não disse mais nada. Pegou a bolsa em cima do sofá, saiu e bateu a porta sem olhar pra trás.

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